Quer um café? Portas abertas, abraços, biscoitos, xícaras de café e as trocas entre terapeutas num espaço clínico de sublocação.


Reflexões sobre a a construção de um espaço clínico compartilhado e  afetivo, fortalecendo terapeutas experientes e iniciantes através do encontro.

O exercício clínico em Psicologia é marcado por longo tempo sentado, disponível à escuta atenta, consciente e concentrada. Bom, ao menos para terapeutas experientes, com a clínica consolidada, agenda cheia, pacientes consecutivos e prejuízos posturais. 
Na “salinha” ao lado, sublocada em fragmentados horários, está o terapeuta iniciante, com clínica em formação, agenda espaçada, poucos pacientes. Ali, sozinho, questiona-se a respeito do tempo, de sua capacidade técnica, torcendo para estar pronto o bastante e oferecer bons insights. 
- Quer um café? 
Um pergunta que, sem planejar, mudou o cenário de portas fechadas nessa casa bonita no Rio de Janeiro. 
O frescor e força dos iniciantes, desejantes de ouvir e serem ouvidos, encontraram as trajetórias dos experientes terapeutas, também desejantes em ouvir o novo e serem ouvidos.  
Um bom encontro se formava, rico, gratificante e potente para produzir saúde, leveza ao processo de construção da clínica, gerar discussões, estudos e descobertas, internos e externos.
Nossa prática acontece num ambiente isolado, voltados e disponíveis ao outro, mesmo estando com pessoas, exercemos uma profissão solitária. 
Acreditamos que as trocas profissionais podem ser terapêuticas, especialmente quando construídas num ambiente onde a crítica é menos ativa, abrindo espaço aos acolhimentos e afetos, afinal, “o terapeuta (...) age a partir de seus próprios sentimentos (...) usando seu próprio estado psicológico como instrumento da terapia.” (Polster, 2001).
Não se trata de supervisão clínica, não há líderes, construímos um espaço/tempo anárquico, que acontece em horário variado, da forma possível, entre brechas de agendas e tempos entre o agora e o toque do interfone, anunciando a chegada de um cliente. 
Nessa casa, seguimos a sugestão de Perls e aprendemos a lidar com a distância entre o agora e o depois da clínica em psicologia de um modo novo, revendo nosso modos de estar aqui e agora, afinal, “sempre que você abandonar a base segura do agora, e ficar preocupado com o futuro, você experienciará ansiedade.” (Perls, 1977).

Referência Bibliográfica:
POLSTER, E.; POLSTER, M. Gestalt-terapia Integrada. São Paulo. Ed. Summus, 2001.
PERLS, F. Gestalt-terapia Explicada. São Paulo, Ed. Summus, 1977.


Por Elianne Marques e Laura Ferreira
Trabalho apresentado no Congresso Estadual de Gestalt-Terapia em 2019

 

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